Há algo relacionado com mitologias, lendas e histórias antigas que me atrai, talvez devido ao ar de mistério que ronda essas narrativas. Não é raro encontrarmos uma grande variedade de versões que tentam explica-las. Por algum motivo, esse contexto serviu de fonte de inspiração para meu post de estreia no blog, pois, no momento em que fui convidado, pensei imediatamente em uma barley wine. A razão está na própria história do estilo que, de tão antigo, permitiu uma série de narrativas distintas sobre seu surgimento.

 

Barley wine (ou “vinho de cevada”, em tradução livre), é um estilo inglês que data do final do século XVIII. Há quem diga que ele teve surgimento na Grécia antiga, onde há registros de um fermentado de mesmo nome, muito embora sem a presença de lúpulo. De qualquer maneira a cerveja barley wine foi produzida inicialmente da Inglaterra e duas histórias bastante interessantes são atribuídas a ela. Na mais conhecida, os cervejeiros criaram o estilo por meio de um processo denominado Parti-Gyle, no qual uma só brassagem era utilizada para fazer diversos tipos de cerveja. O primeiro mosto retirado no processo era sempre o mais forte e, na época, os cervejeiros tinham interesse em fazer uma cerveja com as cores, complexidades aromáticas e graduação alcoólica comparáveis a um vinho tinto. Outra história conta que a barley wine foi criada em um contexto de patriotismo inglês, na intenção de rivalizar com vinhos franceses em uma época de constantes conflitos entre os dois países.

A minha história com o estilo teve início em um bar especializado em cervejas. Enquanto esperava o garçom trazer meu pedido, fiquei lendo a carta de bebidas que trazia os rótulos separados por estilo. Pilsen, lager, weiss, APA, IPA, stout, porter e outras conhecidas, todas com uma variedade de opções. E aí a barley wine, isolada no menu, com somente um rótulo disponível: Dragon’s Blood Wine, da Cervejaria Curitibana Pagan. O segundo aspecto que me chamou atenção foi a graduação alcoólica: 9,5%, meu tipo de cerveja. Não havia razões para não experimentar.

Pagan com copo

A Dragon’s Blood Wine é uma cerveja típica do estilo e que me ajudou a elegê-lo como um de meus favoritos. Possui coloração predominantemente âmbar que, dependendo da iluminação, varia entre o vermelho intenso e o marrom. Talvez ainda me falta alguma prática para diferenciar aromas, mas a cerveja é marcante pela excelente sintonia entre malte e baunilha. Essa relação é também evidente na boca, sendo bem fácil classificar os sabores: primeiro o malte, depois a baunilha e por fim um amargor moderado (51 IBU). Percebe-se que é alcoólica, mas não de uma forma agressiva, pois os sabores combinados a equilibram perfeitamente. Licorosa, persistente, uma baita (para não dizer outra coisa…) cerveja. Apesar de tudo, devo admitir que não é das mais fáceis de se tomar, e nem poderia, dada a variedade de sabores presentes.

Mas, afinal, onde entram os dragões nessa história toda? No rótulo da cerveja, encontra-se: “Uma história antiga conta que o sangue de dragão é um elixir da eternidade”. Com isso, a Pagan nos remete a outra característica das barley wines: são cervejas de guarda (assim como vinhos!) e, de acordo com a cervejaria, a Dragon’s Blood Wine mantém sua jovialidade mesmo após anos de armazenamento. Eu acredito nisso, realmente acredito, mas a verdade é que nunca consegui manter um exemplar fechado por muito tempo.

Abraços e até a próxima.

Trilha sonora: Ahab – “The Boats of The Glen Carrig”.

P.S.: Pouquíssimas coisas em minha vida eu faço sem estar escutando música. A escrita do post não é exceção e meu plano é sempre compartilhar a banda e respectivo full-length que estava escutando enquanto elaborava o texto.